domingo, 14 de setembro de 2014

QUINTAIS DE SALVADOR - SUA ORIGEM

Até os anos 30 e 40, mesmo 50 do século passado, a maioria das casas de Salvador possuía um quintal. Quintal?! O que é isto? Era um espaço geralmente no fundo da casa, de terra, cercado por muros altos. Nele os moradores criavam pequenos animais, galinha, perus patos, marrecos e se plantavam árvores frutíferas e verdura, bem como as medicinais e até se cultivavam flores para os arranjos da casa.







Quintais antigos

Também os quintais serviam para estender as roupas lavadas em casa; para cozinhar em determinados casos, preservando a cozinha interna para refeições mais rápidas, como o café da manhã. Era também o local onde se estocava a lenha ou o carvão para o cozimento e aquecimento das coisas. Também em muitos deles existiam fontes de água doce, naturais ou perfuradas, as cacimbas, dominando um problema mais do que crucial das cidades daquele tempo que era se servir das fontes públicas existentes ou da compra de água em barris trazida no lombo de animais.


Uma cacimba


Não se diga ou não se pense que os quintais eram uma característica das casas mais pobres, muito pelo contrário. Em verdade, começaram a fazer parte da estrutura dos imóveis ainda ao tempo dos escravos, ou seja, no século XVIII. Geralmente tinham uma entrada em separado para evitar a circulação por dentro da casa e se reservava um pequeno espaço coberto (Telheiros) onde eles dormiam ou descansavam.

Teriam os quintais influenciado no posicionamento das casas de antigamente de relação às ruas e avenidas onde se estabeleceram? Muito provavelmente que sim.  O Corredor da Vitória é um bom exemplo. Todas as grandes residências dessa  localidade tinham  a frente voltada para a rua e os quintais voltados para o morro, diferentemente do que hoje acontece quando os grandes edifícios do local priorizam a vista do mar. Nem tanto, haja vista as belíssimas quadras de tênis e piscina na borda do morro.
Corredor da Vitória e seus quadras de tênis e piscinas onde antes eram apenas quintais.

Mas no Santo Antônio não era assim. As casas tinham a frente para a rua e as suas dependências mais extremas alcançavam a borda do morro. Algumas apenas.  Não havia espaço para quintais. Se não havia no fundo, se construíam pátios internos, uma espécie de clarabóia onde se plantava e as vezes se colocava um pequeno chafariz para aproveitamento ou conservação de água. Até as igrejas assim procediam.




Santo Antônio

Em outras partes menos nobres que nem o Corredor da Vitória ainda se vê muitos quintais, agora com piscina, cascatas e outras "benesses" dos tempos modernos:






Não estaria completa esta postagem se não abordássemos o significado da palavra “quintal”. Vem do latim QUINTANALIS, também derivado de QUINTA e nos chega à mente a palavra QUINTA que por sua vez nos leva à “quinto do inferno”. Na época Portugal enviava a esta colônia uma nau para a cobrança do imposto do quinto, ou seja, dos 20% devidos à Coroa (hoje pagamos muito mais que isso à República). Essa era a “nau dos quintos!, a qual era aproveitada para transportar degradados e demais pessoas tidas como indesejáveis em Portugal. Por isso ela é associada a coisas pouco desagradáveis, seu nome foi completado com “dos infernos” e gerou essa mimosa expressão: QUINTO DOS INFERNOS



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