domingo, 3 de março de 2013

O AVANÇO SOBRE AS ENCOSTAS DE SALVADOR


As encostas de Salvador são hoje a grande atração das construtoras. Depois de quase 500 anos, descobriram seus encantos. Têm a vista para o mar. Começou no Corredor da Vitória; em termos, teve sequência na Ladeira da Barra; está querendo pintar no Santo Antônio Além do Carmo mesmo com as restrições de tombamento; manifesta-se de alguma forma nos Morros do Gato e do Ipiranga na Barra  e agora estão de olho na Contorno.
Por muitos anos elas foram como que rejeitadas. Vamos dá alguns exemplos. Na Vitória, inicialmente todas as construções, mansões de um modo geral, desprezaram-nas. Foram construídas com a frente voltada para a rua e os fundos, geralmente quintais, com os muros voltados para o mar. No Santo Antônio a mesma coisa. A frente dos prédios seculares com suas janelas e portas para a rua e a cozinha ou o sanitário voltado para o mar. Geralmente era esse último, desde que os despejos eram feitos na ribanceira.
Haveria uma explicação mais ou menos condizente para essa tendência de construção? Sem dúvida que há. Àquela época, a cidade não tinha o sistema de esgoto que hoje possui. Praticamente, todos os dejetos eram jogados no mar. Isto mesmo, no mar! Havia milhares de “bocas de lobo” como eram chamados os esgotos que despejavam a “sujeira” da população.
Havia também outra razão mais ou menos forte : o lado do mar é oeste e ninguém suportava as tardes ensolaradas de Salvador. O sol incidia direto nos fundos das casas. Não havia o “ar condicionado” de hoje e mesmo os ventiladores deixavam a desejar. No mínimo eram barulhentos.
Oportunamente, deva ser esclarecido, que o mar, as praias de antigamente, não tinham o “prestígio” que tem hoje. Estamos nos referindo ao principio do século passado, aí pelos anos de 1900, aproximando dos anos 60.  Pouca gente ia à praia. Era um risco total à saúde pública. As piores doenças estavam na praia. Gente daquele tempo, deve se lembrar que, ao lado do Forte Santa Maria no Porto, havia um terminal de esgoto gigantesco que despejava todo material do Hospital Espanhol ali em frente. Era uma água preta que  formava um mancha  gigantesca, mar afora. Quando a maré estava de enchente, essa mancha alcançava o Porto da Barra, Gamboa, etc. Na vazante, era levada para fora. Somente os poucos avisados tinham coragem de tomar banho de mar neste local. Apenas os pescadores colocavam suas embarcações a velejar, molhando apenas as canelas.
Estrutura de terminais de esgoto. Este ainda se acha na Praia da Boa Viagem, devidamente desativado. O da Barra era mais ou menos assim. Era um padrão da época.

E não se diga que era apenas ali no Porto o problema! Não era! Em frente à rua onde hoje se acha o Hotel Pascoal, esquina com o Barra Center,  havia uma boca de lobo gigantesca que despejava toda a água proveniente do Canal do Chame-Chame, canal este que recebia  os esgotos das residências ao seu entorno. A força das águas fétidas fazia um caminho profundo na praia. A areia ficava preta ao redor. Fazia um vinco, como se fosse uma pequena foz.

Acreditem, mas é verdade. Esta é a Praia do Farol, ao tempo da boca de lobo acima referida. As águas fétidas eram represadas e ali mesmo eram servidos os refrigerantes,  a cerveja e o acarajé. Pouca gente se aventurava a ir a praia. Esse "espetáculo" era constante. Bastasse chover mais forte e se fazia esse "canal",
E o que dizer das praias de Boa Viagem e Monte Serrat. Ali em cima na Rua São Francisco ficam dois hospitais, Sagrada Família e o Couto Maia, este destinado a doenças das mais graves. Pois bem.  Em frente ao Largo da Boa Viagem havia um terminal de esgoto gigantesco mostrado acima. Ele recebia os dejetos desses hospitais.  
Em consequência, todas as casas no perímetro, têm a frente voltada para a rua e os fundos para o mar. Até hoje!
Agora o avanço sobre as encostas de Salvador se dirige para a  Avenida do Cortorno. Inicialmente, foi ocupado o espaço onde funcionava a Boate O'Clok. Foi um "Deus nos acuda" quando se fez o anuncio, mas por fim conseguiram o alvará de construção.

 Ex-Boate O'Clok
Agora, avançam sobre o Solar dos Gonçalves, belíssima construção onde morava a campeã sul-amerciana de natação Mary Gonçalves. A mansão fora comprada pelo seu pai, Sr. Walter Gonçalves quando veio para Salvador instalar uma fabrica de saltos para sapatos de mulher. Pertencia aos irmãos Maia, que remavam pelo Santa Cruz e possuíam uma casa de tecidos no Comercio – Casas Maia.

 Mansão dos Gonçalves - no alto
Tinha uma vista maravilhosa. Vai subir um arranha-ceu em seu lugar.

Ruinas da mansão

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