quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

CARNAVAL DE HOJE E DE ANTIGAMENTE - TRIO ELÉTRICO


Temos um amigo (Augusto) que, toda vez que nos encontrávamos, (faz tempo que não o vejo),  dizia que  precisávamos contar a história da natação da Bahia. Temia ele que tudo se perdesse! Nadamos juntos em Itapagipe. Foi aí que resolvemos criar um blog intitulado “A verdadeira história da natação da Bahia”. Foram feitas duas dezenas de postagens e, satisfeitos,  paramos de escrever o referido blog. O assunto tinha se esgotado... Chegamos aos tempos atuais. Deixamos o resto para os outros.
O que acontece? Fomos menino, adolescente e adulto entre dois séculos. Acompanhamos  a grande evolução que o mundo teve entre meados do século XX e principio do século XXI em vários setores da atividade humana.
Como no presente estamos tratando de Carnaval, acompanhamos  de perto tudo que se lhe diz respeito entre os dois séculos. Para sermos mais precisos, vivemos muito de seus momentos. Por exemplo, acompanhamos de perto a transição do antigo carnaval chamado de “clubes” para o carnaval denominado de “rua”; vimos sua transformação material e imaterial, ou seja, acompanhamos a mudança de seus conceitos.
Cabe-nos contar aos  leitores essa transformação. Aliás, na postagem anterior já fizemos referências importantes sobre o comportamento do folião no carnaval de antigamente. Bastante diferente dos dias de hoje.
Hoje, vamos falar como foi possível esquecer as fantasias, as músicas, os adereços do carnaval de antigamente, sua beleza infinita e substituí-los pelo que vemos e ouvimos hoje em dia?
A maioria dos autores culpa o surgimento do Trio Elétrico, que teve inicio na “fobica” de Dodô e Osmar no Carnaval de 1950.
Fobica de Osmar



A respeito conta-nos o jornalista Gil Maciel (Publicado no jornal Correio da Bahia em 22 de janeiro e 2000):
"A fobica trafegava lentamente. Dentro do carro, Dodô e Osmar tocavam frevos e marchinhas, com seus paus elétricos. Osmar estava preocupado em não atrapalhar o cortejo dos blocos na Rua Chile. Ele virou para Dodô e disse: "Rapaz, tô com medo que a gente seja preso por causa da confusão.
Os dois decidiram pedir ao motorista que parasse o carro e foi quando ouviram do condutor uma resposta emblemática: "Já estamos sem freio e sem embreagem há muito tempo. Quem está empurrando o carro é a multidão".
Era domingo de carnaval de 1950. O dia em que a Bahia conheceu oCarnaval viva do embrião do Trio Elétrico. "Peguei eles na Castro Alves, já com muita gente seguindo. Quando chegamos ao pé da ladeira que subia para a Rua Chile, a fobica quebrou", lembra Orlando Tapajós, que depois veio a ser o dono do Trio Tapajós e hoje é uma lenda viva do Carnaval"



Daí pra frente, nos carnavais seguintes,  foram surgindo os Trios Elétricos em potentes caminhões e os blocos foram aderindo na sua formação. O primeiro deles foi “Os Internacionais”. Depois vieram “Os Corujas”, o “Eva”, etc. Hoje são mais de 100.
Aos poucos ou quase imediatamente, os foliões trocaram os clubes pelo carnaval de rua. Também trocaram as fantasias pelas mortalhas e abadás, nessa ordem.

Mortalhas e abadás - foram elas que encurtaram as mortalhas

As mortalhas eram uma bata comprida, até os pés. As meninas aos poucos foram suspendendo  a bainha até ficar na altura dos joelhos e das coxas. Surgiu assim o abadá de hoje. Grande idéia. Ficou bonito! Mesmo assim, tem gente que não se conforma até os dias de hoje. Vejamos o que  foi escrito na revista Varginal sobre o assunto. É terrível! Seja ser preconceituoso:
"A estrutura do Carnaval dos trios é o espelhamento de uma sociedade no seu paroxismo. É impossível manter a estabilidade de tal festa, pela sua magnitude, sem estabelecer medidas repressivas que impeçam o surgimento de conflitos de grandes proporções. Apesar disso, a violência explícita, por vezes, era mostrada pela mídia; até que um dia, um acontecimento, na Praça Castro Alves, chocou a opinião pública: uma turista branca e loura foi atacada, saqueada e quase desnudada, diante de todos que acompanhavam o trio elétrico, por um grupo de indivíduos num ato de selvageria que a mídia transmitiu para todo o país. A partir desse dia estabeleceu-se a censura à Imprensa: não se divulgava mais cenas de violência como brigas e arrastões, embora eles continuassem existindo. Passou-se, então, a divulgar a falsa estatística do “Carnaval sem violência”, com números manipulados. Para atrair turistas, criou-se o mito da “Bahia: terra da felicidade”.
Por via das dúvidas, e por não acreditar nas estatísticas, a “elite” resolveu proteger-se criando espaços limitados por cordas e defendidos pela versão baiana dos “tonton macoutes” de Charles Duvalier, ex-ditador do Haiti – os “cordeiros” (nem tão cordeiros assim). Sua função é dar bordoadas em quem ousar ultrapassar os limites estabelecidos do espaço privilegiado dos que podem pagar por um abadá. Nesse espaço, com uma estrutura de apoio que inclui serviços médicos, sanitários, lanchonete e bar, não são aplicadas as leis que valem para o cidadão comum: usa-se lança-perfume até desmaiar, drogas rolam, mas tudo dentro da nova ordem estabelecida dentro do bloco.
O folião marginalizado – o chamado “pipoca” – e o que vai apenas “olhar” o Carnaval paga caro pela ousadia de atrapalhar o desfile dos cortejos. Além da brutalidade dos “cordeiros”, da ação de marginais furtando seus pertences, há a atitude covarde dos chamados “malhados”, indivíduos que passam o ano inteiro treinando em academias com o objetivo único de agredir os que não brincam sob a proteção do abadá.
No topo dessa pirâmide carnavalesca situa-se a classe média alta, que, do alto dos seus luxuosos camarotes – verdadeiros bunkers, super-protegidos, que chegam a possuir mais de mil metros quadrados de área – acompanha o desenrolar desse drama, refestelando-se com saborosas iguarias, sob efeito de bebidas alcoólicas.  A mídia encarrega-se, por meio de suas estrelas, de prestigiar, com retórica convenientemente elaborada, essa que é apelidada de “a maior festa do planeta” – em que para se brincar é preciso resistência de super-homem – louvando o monumental, o grandioso, com destaques nos flashes da TV para representantes da mais pura eugenia dos blocos de “gente bonita”, ou seja, jovens de pele clara e de classe média e média alta."















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