sexta-feira, 18 de maio de 2012

BAIRRO DO GARCIA SURPREENDE A TODOS

Na postagem anterior vimos que o bairro do Canela originou-se de uma fazenda que pertencia ao senhor Pereira Aguiar. Vimos também que grande parte da Graça era constituída de fazendas e sítios, principalmente ao longo da atual Rua Euclides da Cunha. 

 Porque isto, desde que do outro lado, norte da cidade, a cidade se compactava muito antes, como foram os casos de Santo Antônio Além do Carmo, Barbalho e Lapinha?

 A explicação está no fato de que a porta de Santa Catharina que protegia a área norte da cidade, abriu-se bem antes do que a porta de Santa Luzia localizada na altura da Praça Castro Alves. Enquanto aquela abriu-se por volta de 1551, a de Santa Luzia permaneceu fechada até 1570 ou um pouco mais.

 Existiria uma explicação plausível para esta diferença? Possivelmente!Temos esclarecido que as atividades comerciais da Salvador antiga concentravam-se entre a Praça da Sé, Pelourinho, Taboão e Pilar. As igrejas também ficaram nessa redondeza. Este fato (proximidade do local de trabalho e segurança que as Igrejas proporcionavam) provocou a ocupação imediata de grande parte da encosta que vai de Santo Antônio Além do Carmo até Lapinha. O que havia de espaço foi ocupado e já por volta de 1700 era um grande conglomerado.

 E porquê da demora da abertura da porta sul? Principalmente por questões de segurança. Desse lado, vivia a maioria dos índios. Sempre causavam certo receio e quando as relações melnorararam, as concessões de terra eram dificeis e demoradas. Em conseqüência o desenvolvimento urbano foi excessivamente lento e quando se fez aconteceu pelas bordas do morro, nas proximidades do mar. A única exceção que se pode apontar talvez seja a Graça ,memmo assim até onde hoje se acha o largo, Av. Princesa Leopoldina, por ai. Adiante em direção leste, praticamente, tudo era mato por longo tempo. O Garcia de hoje era um desses locais. Existia no local uma grande fazenda pertencente aos Garcia D'Ávila. 

Passada a febre de expansão, a família começou a vender os espaços adquiridos ou até mesmo doando-os. Possivelmente a sua manutenção se tornara um estorvo administrativo. Foi o caso da Fazenda Garcia doada ao Mosteiro de São Bento; daí para o Coronel Duarte da Costs e desse vendida para a família Catharino. Hoje pertence à Dona Úrsula Catharino O bairro nasceu na Rua Preciliano Pita. Seguia até o Campo Grande; passava pelo final do Cemitério dos Alemães; ia em direção à Federação, chegando no 2º Arco, Estrada 2 de Julho, Rio Lucaia, passando pelo Dique, até o local conhecido como Língua de Vaca.

 DESTAQUES DO BAIRRO

O primeiro deles é o solar acima. Foi residência do 8º Conde dos Arcos, Dom Marcos de Noronha Brito, último vice-rei do Brasil. Dom Marcos foi governador da Capitania da Bahia de 1810 a 1817. Quando se transferiu para o Rio de Janeiro em 1818 foi morar em outro casarão, especialmente construído para ele. O grande detalhe desse fato é que esse casarão foi custeado pelos trapicheiros de Salvador. Verdade! Rolava grandes interesses financeiros, principalmente a isenção de impostos de importação que eram ínfimos naquela época ou quase não existiam. O homem poderia ajudar e muito. Era o vice-rei do Brasil.

 Pelo visto, a "coisa" já vem de longe. Em 1918 a mansão foi tombada. Mesmo assim, foi comprada pela missão presbiteriana americana tendo a frente o pastor Peter Garret Baker e sua esposa a professora Irene Hight Backer. Fundou-se o Colégio 2 de Julho. O segundo destaque do Garcia também é um colégio, aliás, um grande colégio: Antônio Vieira, mais conhecido como "O Vieira".

Com um século de atividades, o Colégio Antônio Vieira é uma obra da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola, no século XVI, conhecida por seu trabalho missionário e educacional e cujos princípios inspiram as ações desenvolvidas, hoje, em diversos países. Sua fundação, em 15 de março de 1911, é parte das realizações empreendidas pela missão jesuíta que desembarcou em Salvador no início do século XX. Para patrono, o Colégio homenageou Antônio Vieira, famoso padre jesuíta que viveu entre 1608 e 1697, legando à cultura brasileira mais de 700 cartas e 200 sermões, impressos entre 1679 e 1696, dentre outras obras.


Claro que não poderíamos deixar passar a oportunidade de registrar um desses sermões - Primeiro Remédio: o Tempo: “Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sábiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos.” 

O terceiro  grande destaque é a igreja de Santa Dorotéia.

A Capela Sagrada Família da Cúria Bom Pastor, também conhecida como Igreja de Santa Dorotéia. No local funciona hoje a Arquiodocese de Salvador. Antes foi um asilo chamado Conde Pereira Marinho e o Colégio das Irmãs Dorotéias.

Santa Dorotéia nasceu em Cesaréia da Capadócia. Seus pais foram martirizados. De educação esmerada, aliava à riqueza invejáveis dotes e sumamente bela. A jovem vivia em jejum e oração. O governador Fabrício havia recebido ordens do imperador para exterminar todos os cristãos religiosos. Denunciada ela foi uma das primeiras vítimas, apesar de não aparecer muito em público, era considerada uma verdadeira apóstola de Cristo, pelas atividades que desenvolvia junto aos cristãos. Foi intimada, perante o governador, a oferecer sacrifício aos deuses. Movida pela ousadia, ela confessou sua fé destemidamente. Fabrício irritado ordenou que fosse estendida no cavalete, esbofeteando-a. Vendo que ela continuava a manifestar a sua alegria, formulou a sentença: "Ordenamos que Dorotéia, jovem repleta de orgulho, que recusou sacrificar aos deuses imortais e conservar assim a sua vida, desejosa de morrer por um homem chamado Jesus Cristo, morra à espada." Por último um destaque inusitado ligado ao Carnaval. Todos os anos desde 1940 sai às ruas do centro da cidade a chamada MUDANÇA DO GARCIA.Inicialmente chamava-se ARRANCA TOCO. Em 1950 virou FAXINA DO GARCIA, pois quando passava levava todo mundo, Quem ficava em casa caia na faxina, pois a poeira das ruas de barro invadia as casas. Nove anos depois, com o calçamento das ruas, a Mudança do Garcia recebeu seu nome definitivo. O bloco foi fundado por músicos da PM.

. Não é surpreendente o bairro do Garcia? Demais!

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