sexta-feira, 13 de abril de 2012

SALVADOR DEU AS COSTAS PARA O MAR

Em postagem anterior vimos as origens de Itapuâ. Seus coqueiros. O significado de seu nome. A quem pertencia e muitas outras coisas. Faltou dizer como se desenvolveu.

Diferentemente da Pituba onde um dos proprietários de terras no local - Manoel Dias da Silva – resolveu lotear todo aquele espaço, resultando num certo ordenamento, Itapuã não teve a mesma sorte। Cresceu por si mesmo, pelo menos do Largo de Itapuã para a esquerda, em direção ao cento de Salvador, desde que, desse ponto para a direita, se construiu as ruas das letras até o farol, com razoável ordenamento, mas com um grande pecado। O mar ficou escondido। É aquela velha história de que Salvador “deu as costas para o mar”। As ruas K-L-R, sei lá,como eram chamadas, dos Artistas, etc. esconderam para si o mar. Quem quiser vê-lo, tem que penetrar por essas ruas – diga-se de passagem – estreitas, caminhar cerca de 200 a 300 metros e ai, sim, vê o mar.

Não é assim até o Largo de Itapuâ. A estrada que lhe dá acesso corre ao longo da praia, absolutamente livre. Dizem que é assim, porque foi feita inicialmente pelos americanos, criando mais um acesso para o aeroporto militar do tempo de guerra. Quase se confirma essa premissa quando se constata que o conjunto dos aeronáuticos construído em Itapuâ quase ao mesmo tempo, está localizado do outro lado da pista. Todos desfrutam daquela brisa, residentes e passantes.

O que se vê em Itapuã é como que uma tendência aliada a uma permissibilidade dos poderes constituídos, de encobrir o mar, não somente prejudicando a beleza da cidade, bem como a prejudicando no que se refere a ventilação dos seus espaços. Isso vem acontecendo à séculos como vamos mostrar



Temos que nos reportar praticamente ao principio do crescimento da cidade para a sua parte baixa. Como se sabe, Salvador se desenvolveu primeiro na parte superior (alta), desde a Praça Municipal até Santo Antônio Além do Carmo, quando se abriu a porta de Santa Catharina ao norte. Da vez da abertura da porta de Santa Luzia, ao sul, cresceu para os lados São Bento, São Pedro, etc...Em baixo, onde é hoje o Comércio, até Pilar, quase toda Avenida Jequitaia, Água de Meninos e São Joaquim o mar batia nas bordas do morro. Vejam este painel que está instalado na Companhia de Navegação da Bahia no Comércio.


Apesar de ser uma criação artística, define bem como era a Cidade Baixa antigamente.


Ai vieram os aterros do Comércio, realizados a partir de 1777 com extensão até 1801; desse último ano até 1860 e daí até 1894, culminando com o a construção do porto de Salvador entre 1909/1912.


Muitos haverão de arguir que o Porto de Salvador tinha que ser construído. A cidade precisava. Claro! Mas não no lugar que o foi. Era e ainda é um lugar raso. Ali em frente está o Forte de São Marcelo, montado sobre uma coroa de rochas e areia.Caro que essa topografia se estende por todos os lados. Além de ser um lugar rigorosamente raso, dificultava as operações de manobra dos navios. Ainda dificulta e como, dado às dimensões dos grandes navios. Os três primeiros armazéns praticamente não funcionam pela baixa profundidade do local. Mais ou menos por ai.

Em verdade, o Porto tinha que ser construído à partir do Cais do Ouro em direção a Água  de Meninos, como agora está acontecendo na sua ampliação e não se pensa e não se faz na paralela da avenida. São projeções para fora do mar. Se assim fosse pensado, não se destruiria uma das maravilhas daquela época: o Cais das Amarras.


E o Porto de Salvador trouxe realmente progresso para nossa cidade? Não trouxe ao tempo de sua construção.Ainda hoje, dizem que é deficitário. Tempos atrás, escrevemos a postagem seguinte:

PORTO DE SALVADOR - CONSEQUÊNCIAS DE SUA INSTALAÇÃO- 2

A inauguração do porto de Salvador mudou toda uma ordem sócio-econômica de uma cidade e o seu próprio destino. Durante quase todo o século XVIII, a capital baiana era considerada uma cidade cosmopolita, dentro dos padrões da época. Chegou a ser tida como uma potência no Hemisfério Sul.

Fileiras de prédios maravilhosos foram sacrificados. Ali pulsava a Bahia econômica. Eram mercados e trapiches que movimentavam a economia de uma cidade. Bancos, escritórios de importadoras, escritórios de advocacia, seguradoras, davam o apoio logístico.

Não se diria que, de uma hora para a outra, a coisa mudou, desde que a idéia do porto vinha se arrastando desde 1584. Haveria de chegar um momento que ele seria construído, mas a esperança dos trapicheiros era que isto não ocorresse e lutaram muito para adiar essa concretização.

Sabiam eles que no bojo do projeto do porto havia uma condicionante desastrosa para os seus interesses, qual seja, a cobrança de taxas alfandegárias que se dizia seriam na ordem de 40%. Para quem não pagava nada, esse percentual representava uma pá de cal em cima do sistema econômico então existente.

Uma das bandeiras dos que eram contra a construção do porto e a cobrança das taxas aduaneiras, era de que as mesmas foram pensadas com vistas a beneficiar os estados do sul que começavam a se industrializar. Com a diminuição das importações e até mesmo quase a sua supressão, as indústrias instaladas a partir do Rio de Janeiro e São Paulo, haveriam de prosperar quase repentinamente com o crescimento do mercado interno.

Faz-se então o porto. A modernidade, a acessibilidade, a cobrança das taxas aduaneiras eram em verdade, a grande finalidade do novo equipamento? Muitos setores diziam que não. Os objetivos eram outros. Envolvia interesses internacionais. Dizia-se que o porto de Salvador fora construído para assegurar o abastecimento de água potável, descanso ou reparo aos navios a caminho do Oceano Pacífico, o chamado Caminho das Índias. O interesse seria mais de terceiros do que da própria cidade.

Por exemplo, a nível de exportação teve importância apenas razoável com relação ao açúcar, o couro e a madeira. Durou pouco tempo! O açúcar que era básico teve seu ciclo encerrado. Restou apenas o tal “Caminho das Índias”, mas por azar, esse também terminou quando se abriu o Canal do Panamá, tornando-se inviável o Porto de Salvador para os navios que aqui vinham se abastecer. Só um e outro! Lá era mais conveniente, porque mais perto de diversos destinos.

Outro ponto um tanto quanto discutível da construção do Porto de Salvador onde efetivamente ocorreu, foi o câmbio da navegação à vela pela navegação a vapor. Os trapiches acabaram. Os saveiros ficaram sem função. Todo o recôncavo baiano sofreu na carne. As cidades em torno, estacionaram economicamente. As ilhas também. O bairro do Comércio perdeu a atmosfera internacional que possuía.

Diz-se que a Cidade de Salvador deu as costas para o mar, o que é verdade. Isso tem a ver com as cargas e o ambiente social. Havia um passível ambiental. O porto era um lugar imundo. Era comum jogar no mar restos de cargas avariadas de alimentos. Crescia a população de ratos. No campo social, a atividade portuária era exclusivamente masculina. Isto incentivou a criação de prostíbulos nas proximidades. Virou “barra pesada” associado ao submundo de crimes, drogas e contrabando. Por outro lado, a topografia da cidade agravou a divisão, contribuindo não só para separar os dois setores da cidade, mas para sujar ainda mais a parte baixa da mesma.

Os shopping centers antigos eram locais de encontro social e feiras ao ar livre. Vitrine para a modernidade, mostravam desde as tendências de moda de Paris e as notícias do Velho Mundo, até as especiarias, alimentos e produtos manufaturados. A Colônia via no comércio mercantilista uma porta de entrada para o progresso, fruto das grandes transformações socioeconômicas pelas quais passava; industrialização, expansão demográfica e reformas urbanas.

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