sexta-feira, 12 de agosto de 2011

RIO VERMELHO 4 – BANDO ANUNCIADOR E FESTA DE IEMANJÁ

É interessante observar que tanto em Itapagipe quanto no Rio Vermelho se faziam festas por iniciativa dos veranistas.
Ambos os locais eram estações de veraneio de muitas famílias daquela época, principalmente as mais abastadas do que resultou a fixação de muitas delas com a construção de belas casas que hoje chamaríamos de “casas de praia”.
Como se viu na postagem anterior, as chamadas “águas milagrosas” do Rio Vermelho contribuíram para a fama do local e a conseqüente valorização de suas terras do que se aproveitaram as pessoas de posse para ganhos imobiliários.
E o veranista daquela época sem muito que fazer durante os três meses que duravam o veraneio, uma espécie de férias, buscavam as mais diversas formas de divertimento e lazer, desde os banhos de mar diários, dos babas de praia, dos jogos de cartas e gamão e principalmente das diversas formas e maneiras de pescar que ia do uso de redes e tarrafas até as linhas de fundo na busca de peixe de primeira qualidade (vermelho) no médio alto-mar.
Nesse último caso, meses antes do inicio do veraneio, preparavam os chamados “pesqueiros” (armações de pau de mangue, latas velhas, folhas de zinco, etc.etc) e com auxílio de pedras muitos pesadas, fundeavam esse conjunto em determinados pontos do mar para que ali se aglomerassem os peixes. Em seguida faziam a chamada “marcação triangular”, tendo como pontos de referência torres de igrejas e outras referências que se destacassem no horizonte.


O almoço não saia antes das duas horas da tarde. Os vermelhos, as tainhas, os siris e os camarões pescados pelos novos “heróis” do mar, precisavam ser preparados com certo cuidado e tempo. Nesse ínterim, rodadas de cervejas eram servidas entre parentes e aderentes, desde que toda a “comunidade” vizinha sempre participava em grande número.
 
O almoço era servido no gramado em frente de uma das casas, geralmente em baixo de uma árvore de fruta pão ou jaqueira, abundantes naquela época.
 
Após os “comes e bebes” começava o carteado que se estendia até o principio da noite. Nesse tempo, era a vez das famílias aderentes gastarem um pouco. Eram servidos petiscos de toda a natureza: camarões empanados, coração de frango, agulhas fritas, petitingas, siris e caudas de lagostas. Depois vinham os doces de todos os tipos desde a famosa ambrosia de leite de cabra até as sofisticadas tortas de chocolate.
 
Essa era a rotina do dia a dia dos veranistas das duas localidades e se não bastasse andavam inventando festas de todas as maneiras e uma delas envolvia toda a gente do local. Era o “Bando Anunciador do Rio Vermelho”.
 
Desfilava 15 dias antes do Carnaval “anunciando” a grande festa de Momo. Na verdade, contudo, era como que uma despedida do veraneio que se encerrava poucos dias adiante. Em suma, uma forma sutil de driblar a saudade que já tomava o coração dos dias extraordinários, belos e divertidos que viveram.
Carros alegóricos, mascarados, confetes e serpentinhas compunham a festa. Músicos profissionais eram contratados para as orquestas que puxavam o bando, apenas com um detalhe: a percussão era executada pelos próprios veranistas que treinavam noites seguidas para não desafinar.
Outro detalhe: os tamborins e os tambores eram fabricados pelos próprios veranistas, esses últimos com aproveitamento de barricas de bacalhau. O couro de cobra jibóia era comprado no antigo Mercado Modelo.
 


Carro Alegórico do Bando Anunciador do Rio Vermelho
 
De relação à festa de Iemanjá, não se pode dizer que tenha sido uma criação dos veranistas, mas sem dúvida que eles tiveram grande influência na feliz idéia. Porque assim pensamos?
 
Antigamente a festa de Iemanjá era realizada em Itapagipe com grande pompa sempre no terceiro domingo de dezembro em frente ao antigo Forte de São Bartolomeu – Século XIX com participação efetiva dos veranistas do local.
 
O mesmo veio acontecer no Rio Vermelho quando se intensificou o veraneio nessa localidade. Decorria o ano de 1923 quando se realizou a primeira festa de Iemanjá no Rio Vermelho.
Inicialmente apenas um pequeno publico se fez presente:





Há de se reparar que a atual igreja do bairro ainda não tinha sido construída o que só veio acontecer em 1967. Consequentemente, essa foto é anterior a essa data.
Hoje a festa de Iemanjá é tudo isto:






 

A LENDA DE IEMANJÁ

Conta a tradição dos povos iorubás (atual Nigéria), que Iemanjá era a filha de Olokum, deus do mar। Em Ifé, tornou-se a esposa de Olofin-Odudua, com o qual teve dez filhos, todos orixás. De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos. Cansada da sua estadia em Ifé, Iemanjá fugiu na direção do “entardecer-da-terra”, como os iorubas designam o Oeste, chegando a Abeokutá. Iemanjá continuava muito bonita. Okerê propôs-lhe casamento. Ela aceitou com a condição que ele jamais ridicularizasse a imensidão dos seus seios. Um dia, Okerê voltou para casa bêbado. Tropeçou em Iemanjá, que lhe chamou de bêbado imprestável. Okerê então gritou: "Você, com esses peitos compridos e balançantes!" Ofendida, Iemanjá fugiu. Okerê colocou seus guerreiros em perseguição e Iemanjá, vendo-se cercada, lembrou que tinha recebido de Olokum uma garrafa, com a recomendação que só abrisse em caso de necessidade. Iemanjá tropeçou e esta quebrou-se, nascendo um rio de águas tumultuadas, que levaram Iemanjá em direção ao oceano, residência de Olokum. Okerê tentou impedir a fuga de sua mulher e se transformou numa colina. Iemanjá, vendo bloqueado seu caminho, chamou Xangô, o mais poderoso dos seus filhos, que lançou um raio sobre a colina Okerê, que abriu-se em duas, dando passagem para Iemanjá, que foi para o mar, ao encontro de Olokum. Iemanjá usa roupas cobertas de pérola, tem filhos no mundo inteiro e está em todo lugar onde chega o mar. Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la. Iemanjá, Odô Ijá (rainha das águas), nunca mais voltou para a terra. Ainda existe, na Nigéria, uma colina dividida em duas, de nome Okerê, que dá passagem ao rio Ogun, que corre para o oceano. (http://www.portalriovermelho.com.br/yemanja_lenda.htm) "


Síntese de tudo numa só poesia:

IEMANJÁ RAINHA DO MAR
Composição: Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro
Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Quanto nome tem a Rainha do Mar?

Dandalunda, Janaína,
Marabô, Princesa de Aiocá,
Inaê, Sereia, Mucunã,
Maria, Dona Iemanjá.

Onde ela vive?
Onde ela mora?

Nas águas,
Na loca de pedra,
Num palácio encantado,
No fundo do mar.

O que ela gosta?
O que ela adora?

Perfume,
Flor, espelho e pente
Toda sorte de presente
Pra ela se enfeitar.

Como se saúda a Rainha do Mar?
Como se saúda a Rainha do Mar?

Alodê, Odofiaba,
Minha-mãe, Mãe-d´água,
Odoyá!

Qual é seu dia,
Nossa Senhora?

É dia dois de fevereiro
Quando na beira da praia
Eu vou me abençoar.

O que ela canta?
Por que ela chora?

Só canta cantiga bonita
Chora quando fica aflita
Se você chorar.

Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Quem é que já viu a Rainha do Mar?

Pescador e marinheiro
que escuta a sereia cantar
é com o povo que é praiero
que dona Iemanjá quer se casar.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

RIO VERMELJHO 3- ÁGUAS MILAGROSAS

Hoje, a principal ligação da Barra com o Rio Vermelho se faz através da av. Oceânica numa distância aproximada de 3 quilômetros diferentemente do principio da colonização de Salvador onde uma mata fechada instalada em muitos morros separava os dois locais.
Ate mesmo o acesso pela praia era muito difícil, todo ele crivado de muitos paredões de pedras, quando não dificultado ainda mais pela aproximação do mar que se unia em muitas partes do seu trajeto às íngremes encostas do trajeto.
Essas circunstâncias sumamente adversas dificultaram em muito as ligações entre Vila Pereira e Rio Vermelho, de modo que os progressos que a velha vila ia adquirindo ao longo dos seus primeiros anos, não se transferiram para o arrabalde vizinho.
Para não dizer que não havia nenhum contato, apenas Diogo Álvares Correia, o Caramuru, freqüentava os dois lugares, mas quando ia à Vila o fazia pelos caminho, da Graça e Barra Avenida.
Essa situação praticamente persistiu até 1800, quando começaram a se instalar na área pequenos sítios e núcleos de pescadores, principalmente na Mariquita e em Santana.












Esses pescadores, além do mar, pescavam também no Rio Lucaia, braço do Camurugipe que ali desembocava. ( O Rio Camurugipe também é chamado de Camarajipe, Camarugipe, etc.)
O Rio Lucaia era muito piscoso, notadamente de camarões, tainhas, sardinhas e pititingas, o que atraia tubarões e baleias para próximo da sua foz.
E eis que acontece um fato curiosíssimo no Rio Vermelho: o antigo aldeamento dos índios e pescadores, ganha fama de possuir “águas milagrosas”. Essas águas estavam curando a beribéri.
Àquele tempo Salvador vivia uma síndrome de epidemias de várias doenças, inclusive a beribéri. E ao surgir uma notícia como esta, é de se imaginar a corrida da população para o local, já agora com um acesso pela Avenida Vasco da Gama.
Este fato haveria de gerar uma super valorização dos terrenos nas proximidades do que se aproveitou a classe mais favorecida da população para construções de belas casas, muitas delas verdadeiras mansões e palacetes.
Em pouco tempo, o Rio Vermelho se transformou numa grande estação de veraneio com uma estrutura invejável e até sofisticada. Até hipódromo foi construído no local, bem como campo de futebol, de críquete e de tênis.
De relação ao futebol, o Campeonato Baiano desse esporte foi disputado nesse campo durante 13 anos entre os anos de 1907 e 1920, quando se construiu o Estádio Artur Morais na Graça.





O hipódromo ficava localizado onde é hoje o Parque Cruz Aguiar e o Campo de Futebol na atual Fonte do Boi.
Mas na “correria” do escrever, esquecemos de nos aprofundarmos mais na questão das águas milagrosas do Rio Vermelho e se realmente elas curavam a tal do beribéri.
Curavam! Não é que curavam por algo existente na composição da água. Apenas por que a população tomava mais sol, respirava o ar fresco de suas praias, fazia exercícios, o que não acontecia na inóspita Salvador daqueles tempos com esgotos para todos os lados e a céu aberto.


Os tempos caminharam e em 1922 foi inaugurada a ligação Barra-Ondina-Rio Vermelho pelo então governador J.J. Seabra.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

RIO VERMELHO 2 – SUAS IGREJAS

A Igreja dedicada a Nossa Senhora de Santana é o primeiro destaque do local apesar de absolutamente modesta para os padrões das igejas  de Salvador. Ela é o mais antigo monumento arquitetônico do Rio Vermelho, tendo sido construída na primeira metade do século XIX.
 
Inicialmente fora uma ermida de taipa coberta com palha. Era o ano de 1580. A sua frente era voltada para o mar onde hoje se acha a Colônia de Pescadores do Rio Vermelho.
 
Devido a sua pequena capacidade de espaço para as concorridas missas dos domingos, a Arquiodoseje resolveu construir uma maior e o local escolhido foi o espaço onde existia um forte chamado Reduto do Rio Vermelho ou Forte de São Gonçalo do Rio Vermelho




Esse forte tem uma história interessante: Conta-se que 1604 os holandeses tentaram desembarcar no Rio Vermelho. Não conseguiram seu intento. O mar sempre revolto prejudicava a aproximação de suas naus sob o comando de Paul Wan Caardem. Também havia muitos recifes que se cobriam ligeiramente apenas na maré alta.

Esse fato preocupou o Governo da Bahia que resolveu construir uma fortaleza no Rio Vermelho. Era o ano de 1711 e os primeiros trabalhos se estenderam até 1722. Mesmo decorridos 11 anos, as obras não ficaram concluídas. Numa segunda etapa de construção entre 1722 e 1756, a estrutura do forte foi concluída, mas mesmo assim, fora pouco equipado. Recebeu apenas algumas peças de artilharia. Somente em 1822, quando eclodiu a Guerra de Independência recebeu melhor aparato bélico. Temia o governo que o baluarte fosse tomado e transformado num reduto das forças patrióticas que se estabeleceram na Casa da Torre no litoral norte.

Dois registros históricos dão conta deste forte:

Do imperador D. Pedro II em 2 de novembro de 1859: "fui ao Rio Vermelho. O caminho é muito lindo, atravessando-se diversas chácaras, ainda que, pela maior parte, mal tratadas, e a praia de onde se descobre o forte de Santo Antônio da Barra, de um pitoresco majestoso. Estive perto das ruínas de um forte, achando-se ainda uma peça, aliás muito estragada, deixada no chão."

Do Relatório do Estado das Fortalezas da Bahia" ao Presidente da Provincia, datado de 3 de agosto de 1863, dá-o como nunca tendo sido concluído, citando:

No lugar da costa assim denominado, distante duas mil braças da Fortaleza de Santo Antônio da Barra, existem sete lances de muralhas com o desenvolvimento de seiscentos e doze palmos, ligados e formando entre si cinco [ângulos] salientes e um reentrante, de alvenaria forte e bem conservada, que pareciam destinadas a formar um Reduto naquele ponto, cuja construção julgo ter sido sustada de modo que apresenta o perímetro incompleto para o lado do mar.
À exceção das referidas muralhas que podem ser aproveitadas, tudo o mais há por fazer


Pois bem, foi no espaço deixado pelo forte em ruínas que em 1967 veio a se construir a nova igreja do Rio Vermelho dedicada a Nossa Senhora de Santana.
 
Esperava-se que se construísse uma bela e extraordinária igreja do tamanho da fé de seus devotos, no entanto, quando ela ficou pronta, poucos foram os que a admiraram pelos seus aspectos arquitetônicos, muito pelo contrário, a maioria achou que poderia (deveria) ser muito, mas muito melhor.
 
O espaço era privilegiado, em frente ao mar e tendo na sua lateral direita a belíssima Praia da Paciência, a Casa do Peso dos pescadores do Rio Vermelho, Iemanjá, tudo enfim.







Vamos olhar inicialmente para a lateral da igreja. É o que se pode chamar de “lateral privilegiada”.E não se aproveitou esse detalhe. Fez-se um caixão. A Igreja tinha que ter sua frente voltada para esse lado.

E o que dizer da torre? Pelo menos se fosse decorada com pastilhas azuis iguais a da frente da igreja, poderia ficar melhor, apenas melhor, desde que, no geral é uma torre muito feia। Deve ter faltado inspiração. Pelo menos que se fizesse uma pesquisa de velhas torres pelo mundo afora e talvez saísse uma coisa melhor. Mas, se não fizeram, façamos nós:





Já que estamos falando dessa torre, não poderíamos deixar de nos referir ao sino da mesma. Não é que a igreja foi multada pela Prefeitura pelos decibéis do seu som?! É um caso insólito, isto é, incrível, desusado, desacostumado, segundo os dicionários. Não se tem notícia de algo parecido pelo mundo.
O fato gerou notas de protestos publicadas nos jornais da cidade, entre as quais pinçamos as que segue:
"A polêmica causada pela interdição do sino da Igreja de Santana, no mês passado, extrapolou os limites do bairro e foi parar na grande imprensa, mesmo depois da medida revogada pela Prefeitura. O fato demonstra a divergência das entidades com a postura do dirigente de uma delas,. Segue abaixo carta encaminhada aos moradores explicando o ocorrido e nota de desagravo a Dona Arilda, arquiteta responsável pela manutenção do Centro Social Amilcar Marques, que funciona na Igrejinha , publicada no Jornal A Tarde de ontem(19).


“Aos moradores e amigos do Rio Vermelho


Recentemente saiu uma matéria no jornal A Tarde sobre o problema do sino da igreja do Rio Vermelho, onde o Hotel Catarina Paraguaçu através de seus proprietários procuraram a IGREJA solicitando a diminuição do som, mais não foi atendida depois de duas correspondências. Buscando solução a mesma solicitou a SUCOM uma perícia para medir a potencia que chegava ao Hotel.Quando a perícia constatou o volume acima, foi até a igreja e limitou o volume ao nível permitido e para surpresa dos proprietários a SUCOM autuou a instituição, fato que não permite a legislação.Nós que conhecemos o trabalho que essa senhora vem desenvolvendo no bairro em busca de soluções para toda comunidade, e sendo uma pessoa reconhecida na sua atividade de Arquiteta e como empresaria dona do Hotel Catarina Paraguaçu e a Academia Vila Forma, tendo também em consignação a antiga Igreja de Santana onde através do Centro Social Monsenhor Amílcar Marques,desenvolve trabalho social e mantém as instalações com recursos próprios, ficamos indignados com o ataque que sofreu por parte do Sr Ubaldo Marques Porto Filho.
A Nota de Desagravo foi publicada pelo Jornal A Tarde , no domingo dia 19 . Veja abaixo o teor.


RICARDO BARRETTO
Presidente AMARV
LAURO ALVES DA MATTA
Vice Presidente
MANOEL SOBRINHO
Diretor

Nota de Desagravo
A AMARV – Associação dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho, a Colônia de Pesca Z1, o Conselho de Segurança do Rio Vermelho, além de ex-presidentes da AMARV e empresários do bairro, fundamentados na publicação no ESPAÇO DO LEITOR, desse Jornal, edição do dia 18 de novembro passado, titulada Igreja do Rio Vermelho, o grupo acima identificado, reunido no dia 01/12, decidiu hipotecar sua solidariedade a mencionada proprietária do Hotel Catharina Paraguaçu.

Repudiamos a pretensão do Sr. Ubaldo Marques Porto Filho, na tentativa de levianamente atingir a referida e conceituada senhora, atribuindo-lhe o TRAFICO ATIVO DE INFLUENCIA junto a SUCOM, aproveitando-se de uma reportagem da ATARDE do dia 13/11, para seus ataques pessoais e contumazes.

Tal comportamento tem gerado um ambiente hostil no bairro, com atitudes deselegantes, ausência de cavalheirismo, sobriedade, equilíbrio e sensatez, qualidades que dignificam o homem ao longo da sua jornada, para que seja respeitado pela sociedade e reverenciado com alegria pelos amigos que conquistou. Uma personalidade assim semeia desafetos, adversários e desagrada sua própria história, já tão marcada pela discórdia. Lamentamos!

Haja, dizemos nós.

Amenizemos a coisa com a belíssima imagem de Nossa Senhora Sant’Ana, mãe de Maria:


 

Sant'Ana, cujo nome em hebraico significa graça, pertencia à família do sacerdote Aarão e seu marido, São Joaquim, pertencia à família real de Davi.
Seu marido, São Joaquim, homem pio fora censurado pelo sacerdote Rúben por não ter filhos. Mas Sant’Ana já era idosa e estéril. Confiando no poder divino, São Joaquim retirou-se ao deserto para rezar e fazer penitência. Ali um anjo do Senhor lhe apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. Tendo voltado ao lar, algum tempo depois Sant’Ana ficou grávida. A paciência e a resignação com que sofriam a esterilidade levaram-lhes ao prêmio de ter por filha aquela que havia de ser a Mãe de Jesus.”

sábado, 6 de agosto de 2011

RIO VERMELH0 – CRESCIMENTO DE SALVADOR PELO LITORAL

Não resta a menor dúvida que Salvador teve começo na Barra onde em 1536 desembarcou Francisco Pereira Coutinho, nomeado donatário dessas terras pelo rei D. João III, com vistas ao povoamento do local, posse efetiva, segurança contra invasores, desenvolvimento enfim.

Já a esse tempo andava pelo local Diogo Álvares Correia, o Caramuru, que em 1510 naufragou nas costas do Rio Vermelho e foi acolhido pelos índios Tupinambás por obra e graça divinas, desde que os demais companheiros de viagem teriam sido devorados pelos silvícolas Essa história é contada séculos depois (1781) em versos camonianos pelo padre agostiniano José de Santa Rita Durão . Daí para frente virou “verdade histórica” e tem-se a impressão ao longo dos anos que tudo é realmente verdadeiro. Não é!



Contudo, na realidade não passa de uma epopéia medíocre, conforme o escritor Sergius Gonzaga que escreveu o que segue:

“Uma Epopéia Medíocre
Caramuru é o elogio do trabalho de colonização e de catequese do europeu, especialmente da ação civilizadora do português. Mesmo não sendo padre, Diogo Álvares está interessado em conduzir o índio ao caminho do cristianismo. Este é o seu principal objetivo. Inexiste em Santa Rita Durão aquela fascinante ambigüidade com que Basílio da Gama trata o relacionamento entre brancos e nativos. Seu poema, além de monótono, é banal.

Trata-se de uma epopéia anacrônica, escrita por alguém que, vivendo longe do Brasil desde a infância, armazena toda a bibliografia existente a respeito de sua terra. Ele quer conferir ao Caramuru uma atmosfera fidedigna e objetiva, o que infelizmente não consegue.

E mesmo que os seus índios sejam retratados de forma um pouco mais realista que os de Basílio da Gama, há ainda na sua visão um pesado tributo aos preconceitos da época. A descrição da "doce Paraguaçu", por exemplo, contraria todo o princípio da realidade fisionômica e da cor dos indígenas. Ela é sem dúvida uma moça branca:

Paraguaçu gentil (tal nome teve),
Bem diversa de gente tão nojosa,
De cor tão alva como a branca neve,
E donde não é neve, era de rosa;
O nariz natural, boca mui breve,
Olhos de bela luz, testa espaçosa.”

Tudo isto veio à tona para desmistificar outra “verdade histórica” de que Salvador teria tido começo no Rio Vermelho onde já havia um aglomerado humano, um povoado, sintetizando, através do qual a cidade se desenvolveu, inclusive a Vila Pereira. Tudo porque Diogo Álvares Correia teria chegado primeiro do que Pereira Coutinho.


Dentro desse raciocínio, haveria de se creditar o feito a Gaspar de Lemos, por exemplo, que aqui esteve entre 1501/1502 juntamente com Américo Vespucio; de Gonçalo Coelho entre 1503/1504; do francês Binot Paulmier de Gonneville em 1505 negociando pau-brasil com os indígenas; pelo consórcio formado por Fernando de Noronha, Bartolomeu Marchionni, Benedito Moreli e Francisco Martins em 1511, também em missão comercial; de Fernão de Magalhães em 1514 numa viagem de circum-navegação a serviço da Coroa Espanhola; de Cristovão Jaques entre 1526/1528 quando surpreendeu os franceses carregando pau-brasil.

Todos eles desembarcaram na Praia do Porto, antes Porto da Vila Velha.

Decididamente, Rio Vermelho é o segundo povoado de Salvador e o crescimento da cidade via litoral se deu através dele.

Nota: Sobre Vila Pereira ou Povoação do Pereira e ainda Vila Velha, sugerimos acessarem a postagem desse blog datada de 30 de abril de 2010, titulada BARRA-PRAIA DO PORTO.

Como que dirimidas as dúvidas, o Rio Vermelho tem esse nome em razão de que antes de ser poluido, as suas águas eram avermelhadas, graças ao tipo de arenoso que formava grande parte do seu percurso. 

Rigorosamente, contudo, o Rio Vermelho é o Rio Lucaia, um dos braços do Rio Camurugipe que nasce no bairro Boa Vista de São Caetano.


Há uma versão de que o nome Rio Vermelho é devido a um tipo de flor que dava em suas margens, chamada “cambará”. Sua coloração vai do amarelo até o vermelho. Esse se destaca mais.

Também conhecido como: Cambará-miúdo; Cambará-de-cheiro; Cambarazinho; Cambará-verdadeiro; Camarazinho, Camará de cheiro, Camará verdadeiro e por ai vai.
 
Logo, portanto, estão certos os nomes camará e cambará.

A flor de Camará - Lindona!