sábado, 18 de junho de 2011

FONTE NOVA

Lá pelos séculos 19 e 20, talvez até um pouco antes, as áreas norte e sul da cidade na sua parte alta, estavam praticamente esgotadas. Não havia mais espaços para a construção de um largo, de um convento ou de uma grande escola, por exemplo, equipamentos que sempre exigem grandes áreas. Num dos últimos espaços disponíveis na Graça, após o largo, na Av. Euclides da Cunha, descendo para o Canela, fora construído o Estádio de Futebol Arthur Morais ou simplesmente “Campo da Graça”, como era chamado pela população.

Mas aí já começara a pressão imobiliária sobre as áreas mais nobres da cidade e o Campo da Graça era a “menina dos olhos” dos grandes empreendedores, desde que situado na área mais nobre da capital, à época, mais que o próprio Corredor da Vitória.

E o Campo da Graça não haveria de resistir como não resistiu, ocasionando uma lacuna na prática do futebol profissional da Bahia. Não foi maior porque o governo, diga-se, Otávio Mangabeira, partiu para construir a Fonte Nova.

Esse mesmo governador já tinha construído o Fórum Rui Barbosa, sumamente necessário, desde que as repartições do judiciário baiano eram espalhadas por diversos lugares. Mangabeira juntou tudo!

Outra realização do grande governador foi a construção de um grande hotel – Hotel da Bahia. Salvador não dispunha de um hotel 5 estrelas. Tinha apenas o Pálace, o Meridional, o Chile e uma porção de pensões espalhadas pela Avenida 7 de setembro, até a Barra. Nada que satisfizesse ao turista. Eram instalações destinadas mais ao viajante ou caixeiro-viajante que vinha até Salvador para negociar.



Hotel da Bahia – Inaugurado em 1952


Foi Mangabeira que percebeu a formação de uma nova forma de viajar que não apenas aquela visando o lucro financeiro: o turismo com vistas ao lazer. Já vinha acontecendo na Europa e nos Estados Unidos, após a Revolução Industrial e pós-guerras mundiais.

É tão verdadeira esta informação de que foi Mangabeira o grande responsável pelo turismo que hoje domina a nossa cidade em termos de negócios que, à época, diversos setores da imprensa escrita de nossa terra, comentaram de forma negativa a construção desse hotel: disseram e é verdade, esse escrevedor garante: “para que um hotel tão grande e luxuoso?” – “Isto é desperdício do dinheiro público!” Era a mentalidade de uma época. Ainda não tinha chegado por aqui o verdadeiro turismo.

Mas foi também esse governador que construiu o Estádio da Fonte Nova que levou o seu nome – Estádio Otávio Mangabeira – aproveitando um dos espaços que ainda existiam no setor leste da cidade, próximo do Campo da Pólvora onde começou o futebol baiano; ao lado do grande Convento do Desterro; junto ao Dique do Tororó, decorando-o com sua grandiosidade.

Antigo Estádio da Fonte Nova – Governador Otávio Mangabeira – ao alto o Ginásio Antônio Balbino, construído por esse governador e embaixo a piscina Juracy Magalhães, também governador.

Foi esse o conjunto demolido para dar lugar a uma nova Fonte Nova com vistas à Copa do Mundo do 2014.

Vamos mostrar duas imagens de sua demolição e como será a nova Fonte Nova. Antes, porém, vale à pena informarmos como era esse espaço antes da construção do estádio. Estamos historiando Salvador e não há a menor dúvida que esse fato é, pelo menos, interessante e curioso.

Éramos estudante do Central e junto com outros colegas costumávamos jogar bola na depressão então existente na rocha da Ladeira da Fonte Nova. Havia um campo de futebol todo de barro naquele espaço, nas entranhas da rocha. Após as peladas, lavávamos os pés e as pernas no Dique do Tororó, mas não o Dique que hoje se conhece, demarcado e ajardinado, belíssimo. Era totalmente irregular que nem os dedos de uma mão estendida. Cheio de “baronesas” indicativo maior de poluição. Ainda não existia a pista do lado direito de quem se posiciona no estádio (lado do Tororó). Nesse local havia inúmeras hortas. Os bondes e demais veículos circulavam em mão dupla pela esquerda (lado de Brotas).

A pergunta que se faz comumente é como se formou aquela depressão na rocha facilitando a construção do estádio? Estava quase tudo pronto: o campo de barro e as laterais e fundo elevados. Era só assentar as arquibancadas e tanto isso é verdade que do lado onde ficavam as torcidas do Vitória e Bahia, foi só cortar os degraus no barro e colocar o concreto armado. Fácil? De boca, como dizia o outro.

Há duas hipóteses confiáveis: teria havido uma “pedreira” no local implodindo o maciço rochoso ou o local servia para fornecimento de barro para a área de construção civil, tendo sido cavado progressivamente?

No Bonfim, tiravam o barro na base do morro do Alto do Monte Serrat, tanto que o local ficou conhecido como Barreiro 1 e 2. Quando esgotaram o primeiro, partiram para o segundo.

De relação à pedreira também não se deve estranhar. Salvador tem dois grandes exemplos: o primeiro o da Pedreira do Lobato que implodiu um bom pedaço do Alto de São Caetano. Quem morava na Ribeira àquele tempo, deve ainda se lembrar dos estampidos do outro lado. Estremecia até o mar e espantava as tainhas.

O outro exemplo, incrivelmente, era em Ondina. Existia atrás de onde é hoje o quartel da Aeronáutica uma pedreira que dinamitava, vejam só, os recifes daquela área. A base do morro. A foto adiante mostra o estrago causado. Ficou para sempre.O fato causou mais espécie, porque logo acima ficava a estátua do Cristo, a mesma que hoje se encontra no morro de Ondina.

O local chamava-se Morro de Jesus e tão logo se percebeu o perigo de destruição ou danificação do monumento, transferiram-no para Ondina, onde está até hoje.

A seta vermelha indica o estrago causado pela pedreira e a seta azul indica onde ficava a estátua de Cristo।

A título de informação, o Cristo da Barra tem origem italiana। Foi esculpido em Gênova pelo escultor Pasquale de Chirico à pedido do desembargador José Botelho Benjamin e foi trazido para a Bahia entre 1905/1910। A determinação dessa data foi possível em se sabendo que o referido desembargador faleceu em 1910 e o mais curioso de tudo isto é o fato de que o referido senhor era judeu, tendo se convertido ao catolicismo antes de morrer. Doou a estátua à Prefeitura que só a instalou em 24 de dezembro de 1920, dez anos após a morte do benemérito. Sua transferência para o atual Morro do Cristo só se deu em 1967.





Cristo da Barra


Cristo já na Barra




Quase do mesmo ângulo o morro sem a estátua





Tirando qualquer dúvida

Mas, retornando ao nosso Estádio Otávio Mangabeira, a Fonte Nova após esse interregno que nos pareceu interessante, vamos vê-la sendo implodida, infelizmente:








Já implodido

Dissemos "infelizmente" porque foi sacrificado não somente um estádio de futebol, mas um complexo esportivo constituído pelo próprio estádio, mais um ginásio de esportes e o conjunto de duas piscinas e não se criou opções "imediatas" e até mesmo, "anteriores" para suprir essa falta. Depois se resolve lá em Pituaçu, foi o que disseram e parece que a coisa se arrasta como é de praxe.

Por fim, para talvez amenizar a coisa, postamos abaixo a nova Fonte Nova:

Almejamos que tenhamos uma Copa do Mundo realmente brilhante. A Fonte Nova pela sua história merece tudo isto. O futebol baiano merece tudo isto. O nosso povo merece tudo isto!

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