sexta-feira, 27 de maio de 2011

RUA CHILE - 1

A Rua Chile hoje é uma rua como que “esquecida ”. Pouca gente a freqüenta. Não fosse um terminal de ônibus que se fez num espaço de um edifício que incendiou-se e a freqüência seria ainda menor.

Até esse blog passou por ela e não a percebeu. Será? Ou foi apenas uma forma de destacá-la ao fim de uma determinada etapa desse trabalho e torná-la a apoteose de uma cidade? É possível! Verdade que acabamos de completar um "ciclo" tratando o Centro Histórico de Salvador quase que por completo: abrimos as portas de Santa Catharina e andamos pela Misericórdia, Praça da Sé, Terreiro de Jesus e Santo Antônio Além do Carmo. Depois foi a vez das Portas de Santa Luzia serem abertas e seguimos por São Bento e São Pedro; Piedade, Campo Grande, Vitória, Graça, Barra e finalizamos no Sodré e todo aquele complexo incrivel dessa área.

De qualquer forma, está na hora da remissão, não pelo que ela é hoje, mas pelo que foi no passado dessa cidade à começar pela circunstância de ser a primeira rua da Cidade Alta. Construiu-se a Casa do Governador na Praça Municipal e a lateral esquerda do prédio que se seguiu, dava o primeiro contorno de sua existência.


Casa do Governador – 1549/1623

Posteriormente já a estrutura do atual palácio - 1623/1890

Palácio Rio Branco - Atualmente
 

Rua Chile - Reparem como ainda  é bela
 
O povo foi em massa para as ruas



As bandeiras do Chile e do Brasil entrelaçadas।


Sobre este entrelaçamento comentou-se na época:

“Ao estampar na primeira página as bandeiras do Brasil e do Chile juntas e a flâmula da Bahia ao centro, a mensagem transmitida vai além da irmandade entre as nações vizinhas. Esse é um momento em que a República quer sobrepor à Federação e usa todos os seus símbolos para alcançar seus feitos. Porém, no caso baiano, ao mesmo tempo que a imagem enalterce o Chile, exalta o pavilhão, aguçando a altivez patriótica soteropolitana, visto que existem semelhanças de cor e de desenho da flâmula entre as bandeiras da Bahia e do Chile.”
Quando ao povo, foi intensa a mobilização popular. Foi às ruas como faz nas festas populares. Já de relação às autoridades, além dos membros das Forças Armadas, participaram das comemorações dirigentes das diversas instituições civis, estudantis e se realizaram sessões solenes em diversas delas.
Conta-se que numa dessas sessões um palco desabou ferindo o governador Severino Vieira."

A oficialização do nome Rua Chile foi feita em 17 de julho de 1902 pela Lei número 577. Eis sua redação:

Agora, vale perguntar o porquê da presença de uma esquadra chilena em Salvador, antes mesmo de ir ao Rio de Janeiro que era a capital do País?

É uma história meio complicada e talvez por isso pouco divulgada. Achamos que pouca gente sabe a razão.

Conta-se e é verdade que quatro integrantes do Ministério do Exterior do Chile morreram em Salvador, vítimas de uma epidemia que assolava a nossa capital. O fato repercutiu em todo o mundo ao ponto de a capital baiana ser chamada de “túmulo dos estrangeiros”.

Os navios chilenos vieram resgatar os corpos dos quatro embaixadores e levá-los para o Chile, um procedimento dos mais elogiáveis, respeitoso e patriota.

Toda a Bahia se sensibilizou com esse gesto da nação andina e a fim de mostrar respeito, homenageou a esquadra com grandes festas, mas não aquela “festa” que é só de alegria, mas uma festa de solidariedade, de fraternidade, de um povo que também sentiu e lamentou as mortes dos embaixadores.

Aqui vale citar o que escreveu a talentosa senhora Nivalda Freitas de Oliveira da Universidade Católica de São Paulo:

" Outra nuance pode ser observada – é o binômio morte e vida. Morte dos embaixadores chilenos, morte por falta de política de saúde pública, morte na cidade insalubre versus salubridade das cidades chilenas; vida nas diversas festas brasileiras.
A historiografia aponta para existência simbólica entre o mundo dos mortos e dos vivos. Ao festejar a morte se está tratando de vida, pois tais comemorações estão eivadas de características e comportamento culturais mais próximos da afirmação da existência coletiva”.

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