domingo, 3 de abril de 2011

YACTH CLUBE DA BAHIA

A Ladeira da Barra possui elementos urbanos, isto é, de cidade, extremamente interessantes। Por exemplo, o Yacth Clube da Bahia, a Mansão Clemente Mariani, o Cemitério dos Ingleses e a Igreja de Santo Antônio da Barra. Vamos conversar sobre cada um deles nas postagens seguintes pela ordem apresentada. O Yacth tem uma linda história. Diz-se que o local onde hoje ele está instalado, funcionava uma antiga fábrica de xales. Chamava-se Fábrica de Xales Victória.


Fachada das casas decorada com belos xales

A peça era usada tanto para “cobrir” os ombros das mulheres como para colorir as festas cívicas। Eram abertos nas sacadas das casas. Nas comemorações do 2 de julho, ainda se vê algumas casas ornamentadas com estas peças. Mas, antes da fábrica de xales, muito antes mesmo, o local chamava-se Praia dos Índios. Praticamente aí começou a Vila Pereira quando Francisco Pereira Coutinho, 1º donatário, chegou à Bahia. Corria o ano de 1536. Logo, onde hoje se acha o grande clube, teve inicio a Cidade de Salvador. Verdade que todos os historiadores dão como tendo inicio a cidade em 1549 com a chegada de Tomé de Souza a Bahia e ele, junto com o jesuíta/arquiteto Luiz Dias, escolheram o platô da atual Praça Municipal como sendo a sede do governo. Rigorosamente, contudo, Salvador já tinha 13 anos de existência nas encostas da Barra, do Unhão até o Morro do Padrão, que não é outro senão o nosso tradicional Farol da Barra. Se quisermos caprichar ainda mais nessa questão, a Graça já se formava com a presença de Diogo Álvares Correia e sua mulher Catharina desde 1510. Não devia ser apenas uma aldeia de índios. Já havia caracteres outros. Mas, foi onde era a antiga Praia dos Índios, depois Fábrica de Xales Victória que se formou o Yacth.

Colado ao Cemitério dos Ingleses, começa o grande clube. Aliás, quem desce pelo seu pequeno elevador inclinado ou tem acesso pelo seu novo elevador quem tem o formato do Lacerda, vê à sua esquerda o cemitério que há pouco falávamos como que incrustado no morro.

Entrada pela Ladeira da Barra

Esta devia ser a entrada da Fábrica de xales

Vejamos a história desse extraordinário clube com base em informações colhidas em seus órgãos de divulgação:

“Corria o ano de 1934. Onde é hoje o Hotel da Barra, existia uma pensão que só hospedava estrangeiros. Pertencia a uma senhora conhecida como Madame Striger. Nela residia um casal russo e um filho pequeno. Era a família Taube, ele Walter e teria sido Czar. A mulher de Taube, sempre acompanhada pelo filho, costumava tomar banho de mar na praia em frente. Ela foi uma das primeiras mulheres em Salvador a usar maiô de duas peças, fato que, naturalmente causava certo tremor naquela época. Quando aparecia, a balaustrada ficava repleta de observadores. Um deles, Alfredo Santas Souza, então com 19 anos, resolveu se aproximar e constatou que a moça era estrangeira e morava na pensão em frente. Foi uma abordagem mais de curiosidade do que de outra coisa qualquer, pelo amor de Deus! De imediato a bela jovem diz ser casada e convidou aquele desconhecido a conhecer seu marido. Era alto e mal falava o português, mas dava para entender alguma coisa. Era russo que nem a esposa. Chamava-se Walter Taube. Conversaram sobre barcos e as dificuldades de manutenção e segurança então existentes em Salvador para os proprietários de embarcações. Alfredo era um deles. Possuía um pequeno barco construído em Bom Jesus e vivia ancorado ali no Porto, ao léu. O próprio Taube começava a construir um de 5 metros de comprimento na própria Praia do Porto. Começaram a pensar num local que abrigasse as embarcações e principalmente onde construí-las, uma espécie de estaleiro. Pensaram na antiga Fábrica de Xales Vitória que se localizava na Praia dos Índios, entre a Praia do Porto e imediações do Corredor da Vitória. Foram dá uma olhada no local. Lá estava a antiga fábrica e como sempre acontecia naqueles tempos, era uma mansão como residência e uma extensão ao lado onde era propriamente a fábrica.
Antiga fábrica de xales Victória- tinha que ter uma igreja


Precisavam de recursos. Procuraram os amigos. Na própria pensão tinha um já bem integrado, desde que vinha acompanhando a construção do barco de Taube. Chamava-se Jean Charles Henry Fischer e era holandês. Pronta a embarcação de Taube, programou-se a viagem inaugural para Itaparica onde Alfredo possuía uma casa. Este foi antes de navio para esperar os dois amigos. Depois dos “comes e bebes” os três “visionários” retornaram no barco de Taube. Estavam entusiasmados. Tinham que concretizar o sonho de um estaleiro, aonde, ao mesmo tempo, podessem guardar suas embarcações e jogar conversa ao vento. E bem à frente deles estava a tal casa de uma torre que mais parecia uma igreja do que mesmo uma fábrica. Precisava de mais gente para o empreendimento que estavam sonhando. Procuraram os amigos Theodoro Selling Júnior e Alexandre Robato Filho, também desportistas. Antes já tinha obtido a adesão de Hermano Porto Fernandes, do Banco Alemão, gente de peso. E, exatamente no dia 26 de abril de 1935, o grupo após sucessivas reuniões, resolveu visitar a firma A. Pereira & Cia, proprietária da ex-fábrica Vitória, conseguindo nessa oportunidade, uma opção de compra do imóvel por cinqüenta contos, opção esta assinada pelos senhores Alberto Alves Pereira e Alfredo Joaquim de Carvalho, sócios da empresa. Nessa opção, não se incluía a residência de uma torre, mas, tão somente, as “marinhas” e os galpões ao lado dela, onde efetivamente a fábrica funcionava. Incluía-se também na opção de compra um plano inclinado elétrico com todos os seus pertences, que ligava à fábrica ao resto do mundo, isto é, à Ladeira da Barra. Aí o grupo pensou: quem iria comprar uma casa, apenas ligada ao mar, desde que seu único acesso a terra tinha sido cedido? Retornaram à empresa proprietária e fecharam nova opção, já aí incluindo a referida residência. Nessa altura o grupo já estava reforçado por novos membros: Olivero Henry, Leonardo Carl Aune, Mário Sá e José da Costa Dórea. A partir dai começou a venda de ações que custavam 500.000 réis (um por cento do que o clube precisava para a compra definitiva), jóia de 50.000 reis e mensalidade de 15.000 réis. Nesse ponto, começaram as reuniões preparatórias da Assembléia Geral de fundação do Yacht Clube da Bahia, nome escolhido para o clube. Essas reuniões foram realizadas na sede do Clube Baiano de Tênis. Em 10 de maio de 1935 fazia-se uma primeira sessão preparatória da Assembléia Geral de fundação presidida pelo Comandante Tandredo Tillemont Fontes, Capitão dos Portos, especialmente convidado para presidir a sessão. O prefeito de Salvador foi representado pelo Bel. Eduardo Prisco Paraiso. Na oportunidade foram constituídas as seguintes comissões: Técnica:( W. Taube/ T. Selling Jr. e F.T Browne); Orçamentária: (Carl Aune/ Frederico Espinheira); Escriturária: (A. Robato Filho/ Oscar Luz/ Olivero H.Leonardo/Mario Espinheira de Sá). Em 14 de maio desse mesmo ano foi solicitada a prorrogação da opção de compra por impossibilidade de atender as formalidades legais no prazo concedido e em 19 de maio foram iniciadas as obras: reparo da entrada e do ascensor, montagem, limpeza e preparo geral, inclusive móveis. “Por fim, em 23 de maio de 1935, o Yacht Clube da Bahia era fundado em reunião solene ainda na sede do Clube Baiano de Tênis” (Este foi o relato feito por Alfredo Santos Souza, irmão de Vital Santos Souza, distinto amigo).

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