terça-feira, 15 de dezembro de 2009

LADEIRA DO TABOÃO - A VERDADEIRA "BAIXA DOS SAPATEIROS"

Pouca gente se dá conta de quanto deve ser antiga a Ladeira do Taboão. Cita-se com muita razão a Ladeira da Água Brusca, antiga Jequitaia, como sendo a primeira e, efetivamente o foi. Vimos isto diversas vezes em postagens anteriores. Antigas também são as Ladeiras da Conceição e da Preguiça, comentadas igualmente.


E por onde se pode constatar a antiguidade da Ladeira do Taboão, desde que há poucas referências sobre a mesma? Por um simples detalhe. Seu inicio dá-se na confluência entre a Ladeira do Pelourinho e a Ladeira do Carmo, recantos dos mais antigos. Nas proximidades, começou a cidade.
O retângulo representa o Largo do Pelourinho. Seu baixio termina na Rua do Taboão que o povo prefere chamar Ladeira do Taboão, devido a sua inclinação descendente a partir desse ponto.
Termina na confluência da Rua da Polônia com a Rua Cruz Machado, nas proximidades da Praça Conde dos Arcos.

Ladeira do Pelourinho
Ao seu final tem inicio a Rua ou Ladeira do Taboão. Em frente, de subida, a Ladeira do Carmo.
Como se sabe, as construções no Pelourinho são muito antigas. As primeiras da Bahia de antigamente. Em conseqüência, as pessoas que habitavam essa área e outras tantas que passavam por ela, na busca incessante de víveres para a sobrevivência, teriam se servido dessa descida para alcançar a Cidade Bahia.

Também a alcançavam pelo chamado Caminho Novo do Taboão, que não é outro senão a Ladeira do Pilar, onde se concentravam os trapiches. Se na época ainda não existiam, havia por outro lado a praia onde se faria mais tarde o famoso Cais do Ouro ou Cais Dourado. Poderíamos chamá-la de Praia do Ouro. Belíssimo nome!

Outro detalhe importante sobre a Ladeira do Taboão ou Rua do Taboão. Era aqui a verdadeira Baixa dos Sapateiros! A versão de que a Avenida J.J. Seabra ganhou o nome de Baixa dos Sapateiros em razão da instalação de uma fábrica de sapatos por imigrantes italianos, não se sustenta. Eram muitos os sapateiros instalados no Taboão. Ainda existem alguns. Mas o comércio ainda hoje é muito inclinado para artigos de couro e suas variantes modernas de plástico, caracterizando suas origens.

Por outro lado, a hoje Avenida José Joaquim Seabra, ainda não existia. No local passava o Rio das Tripas ou Camurugipe. Somente no final do século XIX foi feita uma drenagem e o rio foi tubulado a uma profundidade de 7 metros.

Há notícias que no século XVIII o local reunia inúmeras hortas, daí a denominação de Rua das Hortas, como era chamado o local. Também o chamaram de Rua da Vala, por abrigar uma grande vala por onde desaguava o Rio das Tripas. Nada de Baixa de Sapateiros! A verdadeira fervilhava há muito tempo numa transversal da Rua da Vala, em direção aos Bairros do Comércio e do Pilar. A nossa hoje Ladeira do Taboão.



Princípio do Século XX

Reparem a simetria dos prédios. Quase todos da mesma altura. Vejamos um comentário super significativo sobre a mesma:

“Ao caminhar devagar pelas ruas, antes de chegar ao antigo elevador, é possível apreciar o visual dos prédios com suas fachadas em estilo art déco, com altura média de quatro a seis andares. O que impressiona é a simetria. Parecem miniaturas do legendário Empire State Building, de Nova Iorque, o maior exemplo desse estilo em todo o mundo.”

Prédios da verdadeira Baixa dos Sapateiros.
Ary Barroso
Foi nessa rua que Ary Barroso se inspirou para compor a sua famosa “Baixa dos Sapateiros” em 1938. Diz-se que na época o excepcional compositor ainda não tinha conhecido a Bahia. Surgiu n' alma. Questão de genialidade!


"Na Baixa do Sapateiro encontrei um dia a morena mais frajola da Bahia Pedi-lhe um beijo, não deu Um abraço, sorriu Pedi-lhe a mão, não quis dar, fugiu Bahia, terra da felicidade Morena, eu ando louco de saudade Meu Senhor do Bonfim Arranje outra morena igualzinha pra mim Oh! amor, ai Amor bobagem que a gente não explica, ai ai Prova um bocadinho, ô Fica envenenado, E pro resto da vida é um tal de sofrer Ôlará, ôlerê Ô Bahia Bahia que não me sai do pensamento Faço o meu lamento, ô Na desesperança, ô De encontrar nesse mundo Um amor que eu perdi na Bahia, vou contar Ô Bahia Bahia que não me sai do pensamento..."

Tem mais história sobre essa ladeira. Em torno dela aconteceu a Revolta dos Malês (negros muçulmanos) e foi cenário da história de Quincas Berro D’Água.
Falta falar o porquê do nome Taboão. Diz-se que se originou do fato de terem sido encontradas grossas vigas de madeira no Rio das Tripas, sugerindo que ali teria existindo uma ponte ou, simplesmente, um apanhado de tábuas sobre essas vigas, daí Taboão (!)

Super duvidosa essa referência. Desde que temos encontrado ao longo de nossas pesquisas, inúmeras citações que não correspondem à realidade, fomos fundo na pesquisa desse ainda estranho nome “Taboão”. Não nos convenceu a história da ponte e suas vigas, muito menos as tábuas achadas sobre essas vigas. Seriam tábuas de uma resistência incomum!
Na verdade, trata-se de um nome da língua tupi-guarani – TABAPUÃ – de taba (aldeia) + puã (alta): “aldeia alta” como “Tábua” e “Taboão”. OK? Taboão da Serra, em São Paulo nos inspirou na procura.

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