sábado, 7 de novembro de 2009

ESPORTES EM ITAPAGIPE - REMO


Itapagipe sempre foi um grande celeiro de atletas, principalmente do remo e da natação. Tinha que ser. Afinal de contas o mar contorna a peninsula de ponta a ponta. Quase que automaticamente o jovem desde criança, nada e rema, como que naturalmente. É fácil torná-lo atleta dessas duas modalidades.
Vamos começar falando do remo. É nos Tainheieros que existe a única raia de remo de Salvador. Foram feitas algumas tentativas de uso do Dique do Tororó, mas sem sucesso. Não tem a extensão necessária. Talvez tivesse antigamente! Poderia ser usado para provas de caiaque. Seria sensacional!
Caiaque
A raia de remo dos Tainheiros, apesar de só ter sido oficializada pelo Departamento Nacional de Portos e Navegação em 1940, já era usada muito anos antes disso, uma vez que os clubes de remo de Salvador já faziam provas desde o princípio do século XX, haja vista, que eles são dessa época, ou mesmo antes. O Esporte Clube Vitória, por exemplo, é de 1899. O Clube de Natação e Regatas São Salvador e o Clube de Regatas Itapagipe são de 1902. O de menos idade é o Clube de Regatas Santa Cruz que é de 1904. Já a Federação de Remo foi fundada em 1904, de onde se deduz que, mesmo sem o reconhecimento do órgão competente da respectiva raia, as provas oficiais de remo na Bahia começaram no princípio do século passado.

Sedes náuticas do Vitória e São Salvador
Raia de remo dos Tainheiros
Já que estamos falando de passado, poderemos ver os primórdios do remo no mundo. É algo que pode interessar!

Barcos a remo existiram desde a antiguidade, da Grécia até o Egito antigo. Neste país, um faraó organizou uma frota de 400 navios movimentados a remo ai pelos anos 2000 A.C.
Antigamente
As primeiras competições que se tem notícia se deram em Veneza no ano de 1315 e em 1715 na Inglaterra. Foi na Inglaterra, entretanto, que o remo se popularizou como modalidade esportiva. Conseqüentemente, foi lá que se fundou o primeiro clube de remo do mundo no ano de 1817, o Leander Club. Posteriormente, em 1829 as Universidades de Cambridge e Oxford adotaram-no e a partir daí, até os dias de hoje, seus alunos disputam uma tradicional regata no Rio Tamisa em out-rigger a oito remos.
Na Bahia havia também uma regata nesse estilo realizada todos os anos no percurso entre Itapagipe e a Barra. Era disputada entre os remadores de cada clube. O barco utilizado era um yole a 8 remos. Decorria a década de 1970.
Da Inglaterra, as regatas se espalharam para outros países da Europa e para os Estados Unidos, onde se tornaram famosas as regatas Poughkeepsie, ao estilo das que disputavam as Universidades de Oxford e Cambridge.
Out-rigger a 8 da Universidade de Yale
Os Tainheiros, em dia de regatas, enchiam de gente vinda de toda Salvador. Era um acontecimento sócio-esportivo da maior relevância, precedido de intenso noticiário na imprensa falada e escrita. As moças daquela época mandavam confeccionar vestidos especialmente para as regatas, naturalmente nas cores dos seus clubes preferidos ou dos seus namorados. 
Se na terra era uma grande festa, o mar também não deixava por menos. Todos os quatro clubes ou aqueles que se achavam favoritos para ganhar determinada regata, contratavam navios da Baiana que ancoravam ao largo da raia de remo com orquestra e tudo, e faziam um misto de matinal com matinê. O navio já vinha “tocando” desde o cais do porto, desde que muita gente pegava-o ali. Os que já estavam nos Tainheiros iam até os navios de canoa. A rampa em frente à sede do Santa Cruz era o melhor acesso a esses navios festeiros.



Pena que esta foto esteja prejudicada, mas mesmo assim, mostra-nos como eram as regatas de antigamente. Festa em terra e festa no mar. Ainda não existiam as "marinas" de hoje. Claro! Hoje a turma prefere o conforto dos catamarãs ao esforço do remo .Por outro lado, é inaceitável o declínio do remo em nosso estado, como igualmente do basquete, do vôlei, do tênis, do tênis de mesa.  Debacle geral!
Quando os barcos em competição alcançavam o Hidroporto em renhida luta pelas primeiras colocações, cada um dos navios apitava freneticamente. Fogos estouravam na chegada e num pequeno palanque fincado no mar, os juízes de chegada aferiam as colocações e faziam subir num pequeno mastro as bandeirinhas dos dois primeiros colocados, naturalmente sendo a mais alta da embarcação vencedora. Era um momento de grande expectativa por que, muitas vezes, o ganho era por “bico”, isto é, a pontinha mais extrema do barco. Ainda nesse jargão, havia a vitória por meio barco ou por dois barcos e aí ia crescendo a língua portuguesa com novas medidas de aferição das coisas.
O São Salvador às vezes preferia promover sua festa no Hidroporto, em frente a sua antiga sede, em vez de contratar um navio. Era super concorrida, não só pela festa em si, mas também por que oferecia uma visão privilegiada de todos os páreos nos dois ângulos da prova, a saída e a chegada.
Mesmo ao longe, lá nas bandas da Enseada do Cabrito, já se podia identificar cada barco pela cor das camisas dos seus remadores como também pelos remos que brilhavam ao sol!

A maioria dos páreos era corrida na distância de 2000 metros e a saída se dava antes da Ponte de Plataforma; mas também tinha provas de 1000 metros, com saída em baixo da mesma. Só que, nesse último caso, na verdade, era de 1200 metros, que é a real distância entre a referida ponte e a linha de chegada, medida com os recursos hoje existentes. Mas não tem nenhuma importância; nessa distância eram corridos os páreos para juniores. Os seniores corriam sempre na distância dos 2000 metros. Eram os remadores mais experientes e que chegavam a esta classificação por número de vitórias obtidas como juniores.
Não havia provas para mulheres como hoje existe. Antes, elas só faziam prestigiar nas balaustradas, desfilando no asfalto como se diz hoje nos carnavais, só que naquele tempo não era asfalto, era paralelepípedo, isto é, “sólido geométrico cujas bases são paralelogramos” segundo os dicionários, mas convenhamos que “desfilando no paralelepípedo” é muito forte e não condiz com a beleza e a graça da mulher baiana. Fiquemos com “desfilando no asfalto” ao tempo em que tentamos descrever o ambiente das regatas de antigamente.
Tarefa assaz difícil, desde que é quase impossível transferir para o papel o clima daquele ambiente que se esvai por entre as palavras que procuram descrevê-lo. O melhor é lembrar os nomes de grandes pessoas do remo baiano: Jorge Radel, Mário Brito, Baianinho, Coacir, Maranhão, Manoel Gantois, Jarrinha, Jorge Pinto, Piston, Bacalhau, Adroaldo e tantos outros merecedores de uma citação especial. Fica a nossa homenagem a todos eles!
Raia dos 2000 metros - Enseada do Cabrito -Porto dos Tainheiros

3 comentários:

  1. EXCELENTE. ESTE BLOG É UM TESOURO DE INFORMAÇÕES PARA QUEM ESTUDA A HISTÓRIA DE SALVADOR. FALTA COLOCAR O NOME DO AUTOR DE CADA TEXTO PARA FINS DE CITAÇÃO. FUI NO PERFIL APONTADO, ENCONTREI O QUE NÃO QUERIA. SÓ NÃO ENCONTREI O NOME DO AUTOR. DAÍ VOU CITAR COMO FONTE O BLOG.
    Noelio Spinola
    dantasle@uol.com.br

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  2. Adorei a leitura. Sou nascido e criado em Itapagipe, filho e ex-remador (Hélio Nunes de Sento Sé)e agora mesmo irei imprimir a página e levar para meu pai se deliciar com a leitura e as memórias.
    Parabéns!
    Dirceu Sento Sé
    dirceuse@terra.com.br

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  3. Prezados Amigos.
    Inicialmente, agradeço os elogios ao nosso blog. Foram anos de pesquisa. No caso do remo, fiz com especial carinho. Meu pai, Manoel Gantois, foi um grande remador, ao tempo de Jorge Radel, Mario Brito, Cocenza, Jarrinha, Maranhão, Hélio Nunes.
    Ficava na balaustrada torcendo. Fiz algumas reportagens para o jornal A Tarde, à pedido do grande jornalista que foi Genésio Ramos. Tudo pelo prazer.
    Meu email: eduardogantois@gmail.com

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